terça-feira, 22 de março de 2011

Opinião e Memória.


QUERO PATHÉ COM CAFEZINHO.

Observo, com inquietação, esse entrave do desejo popular em relação a reabertura do Cine Pathé. É como se fosse uma tarefa hercúlea. Não deveria. Ao contrário de estar inquieto, gostaria de, quietinho, ficar com a minha namorada no Café Três Corações, aguardando pacientemente por uma sessão no Pathé. Nenhum dos dois opera como antes. Muito triste!
Veja bem: o corpo do Pathé está lá, faminto e sujo; mas ao passarmos por ele, não deixamos de receber um olhar de muita elegância. Já o segundo referido, onde eu faria minha prévia antes do cinema, queimou o filme. O último quadrante da Praça da Savassi - onde procuramos entretenimento, comunhão de prazeres e idéias - foi trocado por uma operadora de telefonia celular. Ora bolas! Celular é ótimo, principalmente para convidar amigos para um cineminha, mas eu compro em qualquer portinhola ou pela internet. Esses nobres espaços, meus amigos, não resistiram à força do mercado; são paradoxalmente populares, onde frequentam seres humanos com seus "pets" ou "pet boys" ou "girls" - é um barato! - que gostam do fomento cultural e da diversidade de prazeres que a Savassi potencialmente tem. E nobreza é enxergar o que as pessoas realmente querem.
Eu, um mero contribuinte, não trocaria meu café com Pathé por um atendimento feito pelas belas mocinhas nas operadoras. Quero ação rápida e com responsabilidade social. Tirou algo, coloquem outro algo melhor ali ou lá. Mas coloquem. Não fiquem aí, senhoras empresas, pelos quatro cantos, a verem nuvens passando. As senhoras oferecem seus produtos e serviços de qualidade e qualidade é obrigação. Hoje, para receberem o tratamento de senhoras respeitadas, permutem com a comunidade um pouco do lucro intangível, no caso, a cultura. Tangível, o dinheiro, nós o ofertamos de cheio. Onde está a contrapartida? A fama de maquiavélicas e dominadoras impositivas eu sei onde está.
Já desde a década de 60 que as grandes marcas vêm se esforçando para a melhoria do que obviamente nos convém: o bom relacionamento simbiótico empresa/sociedade. É isto que nos interessa; pelos seus produtos pagamos muito, e eles são apenas coisas. Marcas são promessas e estão edificadas em exímios valores e atributos que deverão ser cumpridos. Eu, o mesmo mero contribuinte, chegaria antecipadamente ao filme para, com orgulho, assistir a propaganda institucional dizendo: empresa tal patrocina este cinema, subsidiando um bem para a Savassi.
O passarinho voa. E olhem como é lindo!


Em Brancas Nuvens


Quando o nada ocupa seu tempo,

seu tempo afoga e você nada.

Último Capítulo.


Não quis levar nada.
Já havia excesso de peso na cabeça.
O ideal seria eliminar os pensamentos para não afundar de imediato, mas não queria contaminar nada porém, no caminho.
Não tinha direção.
Quis a companhia de um cachorro.
Ninguém mais interessava.
Não tinha sequer cachorro no caminho; mas isso agora daria uma direção: procurar por um.
Quando encontrasse, iria levá-lo a um Campus Federal, a uma Faculdade de Veterinária.
Seria esse seu último contato humano, numa veterinária!
De lá partiria novamente sem direção, na companhia do cão.
O caminho teria de ter água e comida para ele; o cão.

21mar2011