Uma criancinha, filha de um casal muito bilionário, vivia em um condomínio fechado, blindado e lacrado.
O que mais a incomodava eram umas esculturas vivas vestidas de preto, com óculos pretos, que ficavam sempre prestando atenção nela e ao redor.
A casa da pequena bilionária era grande. Tinha tudo pra dar certo. Jardins, árvores, gramas, brinquedos, como escorregador, balanço e mais. Tinha muitas escadas, janelas, cadeiras e quadros.
O pai da pequena bilionária era um executivo de prestígio. Ele investia em quadros.
Havia muitos quadros estranhos. Não era bem os desenhos que ela assistia no room theatre; eram mais curiosos e não ilustravam nenhum Disney.
A pequena bilionária convivia com eles a muito tempo. Ela já tinha dialogado com os pequenos detalhes de cada obra.
A menina conversava com os quadros e tudo isso era numa outra dimensão, uma outra realidade, outra diversidade, outras representações.
O condomínio onde a pequena bilionária vivia estava excitadíssimo. Crianças e alguns adultos fariam uma excussão numa vã blindada pela cidade. A primeira vez.
Iriam visitar a cidade onde “não” viviam.
A pequena bilionária ficou pensativa: as conversas preocupantes de seus pais durante as refeições, os ursinhos carinhosos, as cantigas dóceis, cds com canções educativas em tons divertidos, e aqueles quadros oníricos.
Partiram todos. Depois de muita distância, a pequena bilionária avistou que iriam passar por um viaduto. Lembrou de um dos quadros de uma das paredes da sua casa grande.
O motorista da vã blindada seguiu pelas poucas e congestionadas vias viáveis. Por baixo, carros. Dos lados carros. Acima carros. Todos entre um fumê de fumaças.
Ela notou outras coisas desagradáveis e marcantes também. Lembrou das conversas preocupantes de seus pais.
Começou a desacreditar nas musiquetas dóceis, na existência dos fofos.
Bem, vamos ao título!
Na sua espaçosa casa tinha um quadro em que o viaduto levava às nuvens. Poderia também subir escadas largas ou optar por rampas gostosas.
A pequena bilionária lembrou que o quadro tinha luminárias. Pensou nas diferentes luzes deste quadro. Luzes que brilhavam, luzes que escondiam; luzes brincantes.
Eram figurativas as nuvens, não fumaças borradas e impregnantes que formavam as galerias sobre o mar. Tudo era calmo e não havia preocupação.
A pequena bilionária pediu ao motorista da vã blindada, educadamente, para assim que possível, na primeira oportunidade, a devolvesse para os seus quadros; seu condomínio fechado.
João Batista Guimarães Alves.
15/04/2011