terça-feira, 11 de outubro de 2011

Finalmente!


Era pra ter alguém em casa quando ele chegou.

Não chamou por ninguém, mas lembrava disso a todo instante.

Fez tudo o que fazia quando chegava a casa.

Ninguém em casa.

Chegou a sua hora de dormir e absolutamente ninguém em casa.

Desceu as escadas e antes do primeiro degrau viu seu irmão ensanguentado, de cabeça quebrada.

Ele estava estranhamente pendurado na parede. Por fim deu-se conta de que todos os outros cinco da casa jazem.

Chorou como nunca

Entrou em histeria

Puxou os cabelos do peito

Da cabeça

Da perna

Do ouvido

Do bigode

E do nariz.

Tremeu todo, perguntou por quê?

Viajou pra outra cidade e pediu que os parentes cuidassem das cremações.

Voltou e sentiu que a casa ficara só para ele;

Assim como Marta, a empregada que não morreu.

Marta sabia de coisas que ninguém poderia saber a seu respeito.

Coisas de quarto.

Ele desejou a morte também dela.

Ela aceitou, não tendo tempo para o arrependimento.

11/10/11

João.

VOU LHE ENTREGAR UMA FLOR


Vou lhe entregar uma flor mas não vou receber dinheiro por ela

CU tem que ter assento.

06/10/11
João

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

O Balão do Francisco


Numa respiração boca-a-boca, encheu-se de graça o balão.

Com um nó na garganta e o vital estrangulamento, manteve em seu íntimo o hálito de Francisco, seu progenitor.

Nenhuma frincha deixava esvair o ar gostoso que o fez crescer e aparecer.

Encheu-se de altivez e vida longa, assim esperava!

Num dia colorido, no parque da cidade, o balão cheio ficou um pouquinho sem ar ao ver um irmão que voava.

Que maravilha, pensou!

Francisco ao notar que ele tinha murchado um pouquinho de tristeza, foi brincar com seu balãozinho junto a outras crianças. O balão voava de mãos em mãos, todos riam e se alegravam bastante. Mas o balão não esquecia do irmão que flutuava: ele consegue voar! E deixou mais um pouquinho de ar escapar.

Francisco vendo seu abatimento, sabiamente, como todas as crianças, colocou o balão no colo, o acarinhou e lhe disse ao pé da orelha:

Aquele balão pode sim, voar. Mas repare que ele está engaiolado por aquela cordinha, ele não está a mercê do vento, saltando de lá pra cá, dali pra colá. Ele está preso, é um balão em que seu silêncio pesa como asas quietas e recolhidas. Ele lá de cima, não participa das nossas brincadeiras, não se diverte sendo acariciado pelas mãos infantis. Uma corda o mantém distante, sem autonomia. Você pode rolar na grama, sentir o toque das flores, rebater-se nas árvores, passear com a brisa e ficar bem pertinho de mim. Você foi beijado para nascer, tem dentro de si o arzinho quente que veio do meu coração. Seu irmãozinho apesar do seu potencial de voar, tem dentro de si um gás frio. E caso ele queira desvencilhar-se do seu dono e ganhar o céu, ele voará sim, mas pra subir solitário até a uma pressão que o estoure. Morte prematura e bruta, ao passo que você, meu redondinho, ficará velhinho junto de mim. E não me importará suas ruguinhas, se tornará meu pequeno maracujá!

E quando for a hora, desatarei seu nó para que o nosso ar possa apagar até a última velinha do seu bolo de aniversário.

Para o meu filho Francisco.

João.

10/10/10