Francisco vinha caminhando do outro lado, em direção ao grande puá e o observava.
Ele era afeito, desde bebezinho, a pequenas coisinhas. Tudo que era reduzido, lhe chamava a atenção.
Estava olhando para aquele grande senhor e viu que ele não se preocupava com o mundo inferior às suas botinhas.
DÚVIDA! O que mais conta:
...aquele calmo senhor simpático e redondo, de macias mãos...
Francisco notou como elas se aconchegaram na carequinha de uma menina vestida de furinhos e rasgadinhos que passou;
...ou aquele bolão de passos lentos de tanto peso, que assassinava as formigas?
O pé do Francisco era XPP.
Ele teve a idéia de colocá-lo à frente das botinhas daquele senhor de bochechão e boné com um pompom em cima.
-Quero ver ele se preocupar com o meu pé!
O bolão pisou com o calcanhar da botinha.
Francisco se debulhou em chuva e trovoadas.
Imediatamente o rechonchudo senhor o pegou pelas conchas e o afogou na barriga.
Francisco ficou sem ar. Não podia nem gritar
O velhinho foi desafofando o abraço e o olhou profundamente, com o seu olhar de Joaninha.
Francisco viu duas bolinhas castanhas.
Francisco via um monte de bolinhas agora.
Bolinhas iguais a da Joaninha que passeou nos seus cabelos, gols, limãos, pueirinhas, gotinhas, rodinhas e um monte de bolarias mais.
A tempestade sumiu. Nada de trovões.
No seu lugar a vós do vovô. Ela soava como se aquelas suas botinhas arredondadas falassem.
- Tão pequeno!
O vovô com toda sua idade, atropelando um anjinho tão pequeno!
Não sei de onde ele tirou:
dez pedrinhas.
As colocou, cinco em cada mão do Francisco.
- Uma para cada dedinho.
O Fura-bolo pode emprestar a sua para o Mata-piolho,
o Mindinho para o Seu Vizinho e o Polegar.
Cuidado, disse o fofo vovô! Cuidado para não acertar os bichinhos. Vovô às vezes, atropela uns pequenininhos porque ele anda com as vistas baças.
Francisco exclamou:
-O senhor olhava para tudo como num binóculo, parecia que nada o escapava!
-Apesar dos meus olhos esbugalhados, o vovô apenas lembrava!
Quando olhava para um edifício, via casinhas;
quando olhava o piche pegajoso, via pedrinhas;
quando olhava um muro, via plantinhas;
quando olhava os carros, via cavalinhos.
Agora, quando olho pra você, te vejo pouco, mas o enxergo bom.
Francisco sorriu.
E sorrindo retornou para sua casa.
Com as menores caixinhas que encontrasse, providenciaria a merecida despedida das formiguinhas que passaram pela vida daquele senhor e de tantos vovôs.
Para Francisco, que vê nas coisinhas uma construção.