terça-feira, 30 de novembro de 2010

O Homem


Aparentado, passou reto pelo espelho.

Já conhecia seus traços, as novas rugas.

Não se preocupou com os desalinhos,

Não sentia mais a rotidão das estréias,

o entusiasmo nos aplausos,

o preenchimento das apresentações.

Passou pela bengala e não se esforçou em pega-la.

Podia quedar-se sem nenhum instrumento, sem pinturas.

Sua caricatura estava encardida.

Procurava sombras dentro do seu narcíseo holofote.

Uma lâmpada aqui e outra ali.

Quem está quer me ver?

As nuances não se asseguravam mais das repetidas e repetitivas histórias.

Senhoras e Senhores, bem vindos!

Estou aqui para

O estrelato não podia mais ser sintecado.

Apareciam os pregos impossíveis de novo lustre.

Sua identidade suspensa por uma respiração e uma pontuação.

A platéia exótica roubava sua cena.

Perdeu o protagonista, perdeu direção.

-Anda palhaço!

Deu-se com o persistente “anda”.

Tinha o furo nas botas

Dos seus furos retumbava a inevitável ordem:

-Anda palhaço!

Já visitara essa vós. Familiar.

Suas alavancadas,

Sua glote.

Já vibrei com suas cordas,

já perscrutei suas vaidades,

suas leviandades,

as roupas trocadas.

-Um instante!

-Senhoras e Senhores! Ouçam os tambores!

Organizem-se em três filas:

Será feita a restituição do ingresso a suas vidas.

Nossos acessos estão congestionados,

Andem, andemos palhaços!

Nenhum comentário:

Postar um comentário