quarta-feira, 4 de junho de 2014

O TRABALHO.


Anselmo Campanário era limpador de janelas.
Passou por um rigoroso treinamento de segurança. Ficava pendurado num pequeno assento preso ao cinto e à dezenas de ganchos e cordas que se entrelaçavam. Escalava andaimes, usava luvas protetoras para se agarrar a qualquer coisa e capacete com viseira para o sol não brilhar demais nos seus olhos. Para não ralar os joelhos em prédios acimentados: joelheiras.
Anselmo Campanário era um jabuti de cento e dez anos. Tinha vertigens e limpava edifícios de cento e dez andares.
Sua técnica era viver o real pavor que sentia, vestido de palhaço.
As pessoas das janelas riam muito dele, assim, passou a ganhar muito.
Campanário infartou-se após limpar as lentes de seus óculos.
Gastou toda a sua economia com remédios para desentortar o lado esquerdo do seu corpo.

Sebastião Agre D'oce, um famoso fotógrafo, fotografou Anselmo com a boca torta, vestido de palhaço.
Virou capa do seu novo livro de sucesso. Anselmo achou tudo muito estranho e ganhou mais dinheiro que ele não esperava ganhar.
Torto e rico, contratou um sapo fisioterapeuta muito colorido e cintilante. Contratou uma tartaruga enfermeira que trocava favores pelo salário superfaturado. Ela morreu num tiroteio na selva e Anselmo achou a chave da caixa-postal que ela guardava o dinheiro extorquido dele.

Anselmo Campanário estava de saco cheio, com mais dinheiro e continuava torto.
Um dia, ele comeu o cu do sapo cintilante.

23/05/2014



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