terça-feira, 29 de setembro de 2009

MUQUIFO NA LIVRARIA, 2.

BRANQUINHAS

-Eu gostaria de dar uma olhadinha em um livro que está ali, na vitrine, pode ser?
-Claro. Qual?
-O das africanas.
-Ah! O de nus.
-Eh... é.
-Aqui está.
-Ah, mas ele está fechado...
-Imagine, eu o abro agora pro senhor.
-Mas eu não sei se vou comprá-lo!
-Imagine, não tem importância, nós só o embalamos por causa da fuligem que vem da rua.
-Do que?
-Do pó.
-Tá falando do preto, né?
-É, da poeira preta.
-Que poluição, né? Essa noite eu tossi!
-(...)
-Vou ver, então; mas eu tenho que passar ali no banco pra pegar dinheiro... vocês aceitam todos os cartões de crédito?
-Sim, todos.
-Os de débito?
-Sim, todos.
-Cheque?
-Sob consulta, sim.
-Eu vou dar uma olhadinha e vou lá no banco pegar dinheiro.
-(...)
Após folear o livro, em segundos, perguntou:
-Você não tem um livro africano aí, com umas branquinhas, não? Fica um livro insistente...
-É um livro etnográfico, africanas branquinhas é mais raro, talvez importando...
-Ah não, dá muito trabalho!
-No câmbio negro...
-Ah não, tô querendo branquinhas...
-Não senhor, eu não tenho.
-Eu vou lá, pegar o dinheiro. De repente, fico com este aqui mesmo.
Nunca voltou.

Um comentário:

  1. A última frase nem precisava...
    Assim como os outros me leva a situações cotidianas, mas vistas pelo outro lado, o do sujeito que critica, que desconstrói...
    abç
    Fidel

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